Eduardo joaquim da luz zandona
JOAQUIM DE FLORA
Gioacchino Da Fiore
José Eduardo Franco
Lisboa, Roma Editora, 2005
Luís Fagundes Duarte
Que há algo de pagão nas festas a propósito do culto do Espírito Santo nos Açores, há quem o diga Como talvez em todas as festas populares que de algum modo se encontram ligadas aos ciclos da Natureza Mas há por detrás dos ritos deste culto em particular um conhecimento e uma espiritualidade que vão além de um mero revestimento de memórias pagãs
E tanto assim é, que já assim o entendeu e legislou a política - quando foi determinado que o dia da Região Autónoma dos Açores se comemorasse, todos os anos, na segunda-feira do Espírito Santo [ALA, 1980] - a "Segunda-Feira da Pombinha", que é já a segunda feira que vem
Também não me referirei às razões, mais práticas do que teológicas, que determinaram que o Espírito Santo pegasse assim tão forte na alma e na cultura populares dos açorianos, depois de, praticamente, ter desaparecido em Portugal, na Península Ibérica, e na Europa Não resisto, no entanto, a citar um depoimento de um lavrador já octogenário da ilha Terceira, chamado Gregório Machado Barcelos, recolhido em 1996 por José Orlando Bretão, onde encontramos, vertida no sabor do vernáculo popular e da tradição oral, toda uma súmula doutrinária e de bom comportamento social que tem por centro e por representação o Espírito Santo; tendo-lhe sido perguntado o que sabia ele acerca dos dons do Espírito Santo, assim terá respondido o velho sábio:
"É bom que o senhor me pergunte, porque acho que na cidade falam, falam e acertam pouco Sem ofensa, até acho que não sabem nada, de nada Mas eu digo como é que meu pai dizia e o pai dele lembrava muitas vezes como era Eu digo que os dons do Espírito Santo são sete e são sete porque é assim mesmo, é um número que vem dos antigos, como as "sete partidas do Mundo" ou os "sete dias da semana" e não vale a pena estar a aprofundar muito porque não se chega a lado nenhum e só complica
Este poderá ser o princípio contratual entre o homem e a divindade que permitiu aos açorianos, durante os seus cinco séculos de história, sobreviver numa tão instável e descontínua geografia como é a dos Açores Sobre isso já muito se disse, já muito se escreveu, já muito se afiançou Sobre isso, já a Igreja Católica teve que tomar posições, que definir critérios, que tentar controlar as formas da religiosidade popular referidas ao Espírito Santo
Com muito gosto o faço, e por várias razões - digamos, três razões: primeiro, porque na minha condição de açoriano, tudo aquilo que tenha a ver com o culto do Espírito Santo é-me familiar e instintivamente natural; e para mais quando a isso se junta a voz e a figura de Natália Correia - a escritora de referência nacional que, a par de Vitorino Nemésio, melhor deu conta do que seja a alma açoriana, e uma das pessoas que mais a fundo foi na investigação da essência e da razão de ser do culto do Paracleto no mundo de influência cultural portuguesa, designadamente nos Açores e no Brasil A segunda razão, é porque se trata de um trabalho de dois investigadores sérios, académicos ilustres, que eu diversamente conheço: o Prof José Augusto Mourão, pela sua obra científica, e por sermos colegas na Universidade Nova de Lisboa; o Prof José Eduardo Franco, por ser também ilhéu, como eu, e pelo conhecimento que tenho de alguns dos seus trabalhos científicos, que já por várias vezes se cruzaram com trabalhos académicos por mim acompanhados, como por exemplo sobre as obras dos Padres Fernando Oliveira e António Vieira A terceira razão, é que este livro constitui uma abordagem nova, e em muitos aspectos desviante - o que em matéria de investigação científica pode significar "estimulante" -, no âmbito dos estudos sobre o culto pentecostal em Portugal; e se é verdade que muitas da obras que sobre esta matéria eu conheço não constam da bibliografia que os autores aqui nos dão (e a verdade é que muitas delas também não fazem grande falta), em nenhuma delas o tema é tratado com o espaço e a profundidade com que é abordado neste livro, e sobretudo na perspectiva em que o é: como o eco vivo e operativo do espiritualismo e da mística social de Joaquim de Flora, tão bem lembrados por Natália Correia, na dezena de pequenos textos que dela são aqui editados; e só pelo facto de José Augusto Mourão e José Eduardo Franco terem trazido a lume estes textos, valeria a pena terem publicado este livro - e como filólogo que sou mais o valorizo por isso
Apresentação do livro em Alcanena, 11 de Maio de 2005, por Luís Fagundes Duarte
Eduardo joaquim da luz zandona
JOAQUIM DE FLORA
Gioacchino Da Fiore
José Eduardo Franco
Lisboa, Roma Editora, 2005
Luís Fagundes Duarte
Que há algo de pagão nas festas a propósito do culto do Espírito Santo nos Açores, há quem o diga Como talvez em todas as festas populares que de algum modo se encontram ligadas aos ciclos da Natureza Mas há por detrás dos ritos deste culto em particular um conhecimento e uma espiritualidade que vão além de um mero revestimento de memórias pagãsSr. da TouregaManuel Ezequias FigoAntnio Gil BotasFreguesia da S e S.
E tanto assim é, que já assim o entendeu e legislou a política - quando foi determinado que o dia da Região Autónoma dos Açores se comemorasse, todos os anos, na segunda-feira do Espírito Santo [ALA, 1980] - a "Segunda-Feira da Pombinha", que é já a segunda feira que vem
Também não me referirei às razões, mais práticas do que teológicas, que determinaram que o Espírito Santo pegasse assim tão forte na alma e na cultura populares dos açorianos, depois de, praticamente, ter desaparecido em Portugal, na Península Ibérica, e na Europa Não resisto, no entanto, a citar um depoimento de um lavrador já octogenário da ilha Terceira, chamado Gregório Machado Barcelos, recolhido em 1996 por José Orlando Bretão, onde encontramos, vertida no sabor do vernáculo popular e da tradição oral, toda uma súmula doutrinária e de bom comportamento social que tem por centro e por representação o Espírito Santo; tendo-lhe sido perguntado o que sabia ele acerca dos dons do Espírito Santo, assim terá respondido o velho sábio:
"É bom que o senhor me pergunte, porque acho que na cidade falam, falam e acertam pouco Sem ofensa, até acho que não sabem nada, de nada Mas eu digo como é que meu pai dizia e o pai dele lembrava muitas vezes como era Eu digo que os dons do Espírito Santo são sete e são sete porque é assim mesmo, é um número que vem dos antigos, como as "sete partidas do Mundo" ou os "sete dias da semana" e não vale a pena estar a aprofundar muito porque não se chega a lado nenhum e só complica
Este poderá ser o princípio contratual entre o homem e a divindade que permitiu aos açorianos, durante os seus cinco séculos de história, sobreviver numa tão instável e descontínua geografia como é a dos Açores Sobre isso já muito se disse, já muito se escreveu, já muito se afiançou Sobre isso, já a Igreja Católica teve que tomar posições, que definir critérios, que tentar controlar as formas da religiosidade popular referidas ao Espírito Santo
Com muito gosto o faço, e por várias razões - digamos, três razões: primeiro, porque na minha condição de açoriano, tudo aquilo que tenha a ver com o culto do Espírito Santo é-me familiar e instintivamente natural; e para mais quando a isso se junta a voz e a figura de Natália Correia - a escritora de referência nacional que, a par de Vitorino Nemésio, melhor deu conta do que seja a alma açoriana, e uma das pessoas que mais a fundo foi na investigação da essência e da razão de ser do culto do Paracleto no mundo de influência cultural portuguesa, designadamente nos Açores e no Brasil A segunda razão, é porque se trata de um trabalho de dois investigadores sérios, académicos ilustres, que eu diversamente conheço: o Prof José Augusto Mourão, pela sua obra científica, e por sermos colegas na Universidade Nova de Lisboa; o Prof José Eduardo Franco, por ser também ilhéu, como eu, e pelo conhecimento que tenho de alguns dos seus trabalhos científicos, que já por várias vezes se cruzaram com trabalhos académicos por mim acompanhados, como por exemplo sobre as obras dos Padres Fernando Oliveira e António Vieira A terceira razão, é que este livro constitui uma abordagem nova, e em muitos aspectos desviante - o que em matéria de investigação científica pode significar "estimulante" -, no âmbito dos estudos sobre o culto pentecostal em Portugal; e se é verdade que muitas da obras que sobre esta matéria eu conheço não constam da bibliografia que os autores aqui nos dão (e a verdade é que muitas delas também não fazem grande falta), em nenhuma delas o tema é tratado com o espaço e a profundidade com que é abordado neste livro, e sobretudo na perspectiva em que o é: como o eco vivo e operativo do espiritualismo e da mística social de Joaquim de Flora, tão bem lembrados por Natália Correia, na dezena de pequenos textos que dela são aqui editados; e só pelo facto de José Augusto Mourão e José Eduardo Franco terem trazido a lume estes textos, valeria a pena terem publicado este livro - e como filólogo que sou mais o valorizo por isso
Apresentação do livro em Alcanena, 11 de Maio de 2005, por Luís Fagundes Duarte